domingo, 27 de setembro de 2009

A praga

Em uma das minhas aulas de Identidades Culturais, o professor discutiu com a sala o texto abaixo,de autoria (adivinhem!) de Luís Fernando Veríssimo.É um texto bastante curioso,que trata de forma um tanto bem humorada,um tema sério e real da nossa sociedade, por isso achei interessante compartilhá-lo com vocês.Ele abriu caminho para uma série de discussões e ideias. Fez-nos refletir. Amigos,espero que gostem e fiquem à vontade para comentar,se quiserem.Grande abraço!


Ninguém sabe como se entenderam,mas se entenderam, E a primeira coisa que o índio deu a Colombo foi...um tomate.Era o primeiro encontro na primeira ilha no primeiro dia, e o sol parecia ter chegado perto para não perder a cena.Fazia calor, e o tomate brilhava ao sol como uma maçã dourada.

-Um pomo d'oro!-exclamou Colombo.
-Um tomate-explicou o índio.-Para a salada.Para o molho.
-Finalmente,algo para pôr fim à brancura do espaguete! -disse Colombo,emocionado. -Marco Pólo só descobriu a massa.Eu descobri a macarronada.

E Colombo aceitou o tomate e deu em troca uma miçanga.

O índio deu uma batata a Colombo,que a olhou com desprezo. Mas o índio descreveu (com mímica,com a linguagem mágica dos encontros místicos)sua importância para a história ocidental, desde a alimentação das massas camponesas da Europa até sua versão noisette,ou fritas com um Big Mac.E Colombo a aceitou e deu em troca um espelhinho.

E o índio deu a Colombo o fruto do cacaueiro e falou no que o chocolate significaria para o mundo,em especial para a Bahia e a Suíça, e nas delícias do bombom por vir.E Colombo guardou o cacau na algibeira e deu em troca um vintém.

E o índio deu a Colombo uma folha de tabaco, e falou nos prazeres do fumo,e de como ele afetaria os hábitos civilizados.E se quiserem algo mais forte,tinha uma planta que dava coca,e um barato ainda maior.E tudo isso Colombo aceitou em troca de contas.E mais uma espiga de milho.E mais um papagaio.Até que,com a algibeira cheia,Colombo disse:

-Chega de miudezas.Agora eu quero ouro.
-O quê?
-Ouro.Isso que você tem no nariz.
-E o que você dá em troca?-perguntou o índio,antevendo algo espetacular,como uma luneta.Mas Colombo apontou sua pistola para a cabeça do índio e disse:"Isto",e disparou.Depois mandou seus homens recolherem todo o ouro da ilha,nem que precisassem arrancar narizes.

No chão,antes de morrer, o índio amaldiçoou Colombo e praguejou.Que a batata tornasse a sua raça obesa,que o chocolate enchesse suas artérias de colesterol, que o fumo lhe desse câncer,que a cocaína o corrompesse e o ouro destruísse sua alma.E que o tomate-desejou o índio com seu último suspiro-se transformasse em ketchup.

E assim aconteceu.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O mosquito e o rinoceronte

O que é a mentira frente à soberba?
É como o mosquito frente ao rinoceronte...
Ora, o rinoceronte não é mais importante do que o mosquito
e nem o mosquito menos nobre que o rinoceronte.
Então...
Ambos são seres com sua ameaça:não os julgue inferiores, nem os subestime,
o mesmo vale aos sentimentos e ações, tão vulneráveis e incertos
quanto o voar do mosquito ou o andar do rinoceronte...
Seria a mentira mais que a soberba?
Ou seriam um?
Ora, o mosquito perturba o rinoceronte?
por certo não. Aquele é tão imperceptível e pequeno...
porém, quando entre os seus, perturba a todos na selva.
Portanto, a mentira remontada e acumulada
gera problemas até para os rinocerontes...
e a soberba torna-se pequena frente aos mosquitos.
Então...
A soberba depende do orgulho,
e até que seu portador perceba por si seus prejuízos ou a vida o acorde para eles,
essa talvez permaneça...
Já pela sua complexa problemática, seu prazer nos labirintos,
conclui-se que a mentira é digna de ser afastada...
De modo que não perturbe o rinoceronte, nem o símio,
ou o respeito e o amor...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O que é ser "normal"?


Chamaram-me "louca"...
"OK.Então,o que é ser normal?"
Não souberam responder e eu muito menos no momento.Mas tal interrogação persistiu em minha mente...
A cada fato do dia penso que os padrões não estão muito firmes como antigamente.Preceitos antes aceitos ruíram e hoje representam uma face maquiada frente à sociedade.
Mas o que isso importa agora??
De modo restrito:Se ser normal é pensar como a maioria,é ter atitudes previsíveis e é seguir padrões etários,digo,portanto:Eu não sou normal.
Sempre fui a pessoa que preferiu livros à balada, Kodachrome à digital. A pessoa que ouve música que poucos conhecem,que mescla skate com estudo,que encara os outros tentando ler seus pensamentos e descobrir seu segredos...
A pessoa que conversa consigo mesma,que fica absorta em seus pensamentos,que ri desvergonhosamente com seus amigos,que detesta padrões estéticos impostos,que muda de humor do vinho para a água e que fala quando deveria se calar e se cala quando deveria falar...
Porém,o conceito de normalidade é desarticulamente relativo:o que é "normal" em um lugar pode não ser em outro...
E tal fato está intrisecamente ligado à cultura desse lugar.Relacionado com o modo de vida, de música, de religião, de arte, de morte, de criação...
Com mentes pensantes a nos rondar todo o dia ,pode-se afirmar:o que é "louco" para mim,pode não ser para outrem...A minha concepção de loucura transcende a insanidade e vai para o apaixonado,o extraordinário...
Mas por outro lado, a sociedade forja papeis para serem seguidos por cada pessoa. Mulheres e homens,muitas vezes, escondem suas loucas personalidades sob pena de serem mal interpretados ou excluídos pelos outros...
Não cabe a mim dizer se isso é positivo ou não. Marie Curie, Elvis Presley, Albert Einstein e tantos outros foram considerados loucos...e fizeram história...
Mas cada um tem a sua "loucura"...
Pode-se escondê-la ou mostrá-la e quem sabe "revolucionar"o mundo...de modo que põe a definição desses dois elementos em um nível ridiculamente inconcebível...
Então,se ser normal ou louco está ligado em um fio chamado individualidade, chego a conclusão de que normal é, sem mentiras ou ornamentos, ser você mesmo...
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